Aninha, como toda moça que ama muito, sentiu no ar a podridão. Meu primo, como todo homem, fez Aninha pensar que estava ficando louca e inventando tudo aquilo. Aninha, que estava há mais de seis horas apenas tentando ser perfeita, desabou mas evitou chorar na frente de todo mundo e, de cabeça baixa e mãozinhas fechadas de ódio, foi ao banheiro mais próximo e se entregou a um rio sem fim de lágrimas.
A família inteira, de tio machista a tia metida a modernete, esbravejou contra Aninha: onde já seu viu armar essa palhaçada! Onde já se viu estragar a festa por causa de uma besteira! Homem olha mesmo, homem não presta, uma mulher precisa ser superior a tudo isso! Uma mulher precisa ser equilibrada e mulher só casa se e bláblábláblá.
Eu apenas me levantei, peguei um brigadeiro de colher, e fui ao encontro de Aninha no banheiro. A abracei e chorei junto com ela. Mais de onze anos nos separavam mas naquele momento, éramos apenas duas mulheres que sofriam de amor. Ela pelo meu primo e eu por tantos outros que ficaram pra trás. Ela ainda não tinha aprendido a virar uma escrota maluca e largar o cara falando sozinho na festa, ela ainda tinha a bondade de ir chorar no banheiro e esperar que a vida pudesse voltar a ficar bonita depois da descarga cheia de papel higiênico com ranho. Eu, infelizmente, já tava mais pra loira safada do que pra Aninha.
Come o brigadeiro, Aninha. E eu torço, do fundo do meu coração, pra que você consiga virar essa mulher que não enlouquece, que é superior, que entende a natureza, que aceita que os homens flertam mesmo, procuram mesmo, não conseguem mesmo, mas que, aos poucos, talvez, você consiga acalmá-lo, casar, ter filhos e que, talvez, sei lá, você possa aceitar essa natureza nojenta, o mundo como ele é. Você vai ser mais feliz do que eu, querida, até porque, com tanta doçura e meiguice e feminilidade, o mundo te aceita melhor. Você pode. Não chore. Você pode.
Eu nunca consegui, nunca, eu quero que a natureza se foda. Eu peguei meu casado dourado e fui embora."
Tati Bernardi
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