6 de outubro de 2014

Retrato de quem fica por ser de verdade.

Desses capítulos de gente eterna e macia.
Hoje ele é colorido, como uma revista de pintura infantil. Pedaços bem definidos de cor sobre uma pele linda, pedaços traçados prontos pra serem deliciosamente coloridos e me despertarem essa nostalgia de encontrar um desenho bem bonito e cheio de espaço pra eu preencher com todas as minhas cores. Até esses despertares de sensações da infância, ele nasceu pra causar em mim, aliás, esse é um dos presentes da caixa de surpresas que ele é. Ele é de novo,
sempre,
é desde sempre,
é sempre novo
e pra sempre.
Sempre foi caixa e sempre surpresa, antes era o meu branquelo, colorido "apenas" pelos lindos tons de verde de onde me enxerga de verdade, e apesar disso, nunca desviei de um olhar dele desde antes  de eu reparar quantas cores haviam, e sei: ele me enxerga melhor que eu mesma até hoje.
Éramos a festa e a entorpecência da juventude profunda e sensível aos erros do mundo. Algum tempo depois fomos a volta do sorriso mais maduro, porém o melhor ainda está por vir.
Ele já me via, já ia comigo onde o vento levasse e eu cabia (caibo ainda) dentro do abraço rebelde e enroscado dele.
Hoje ele tem a cor da paz, de dentro pra fora, ainda tem o verde mais esclarecedor e aconchegante da Terra e ainda precisa me olhar pra sentir, ainda detesta as palavras virtuais, o futebol, a minha incapacidade de escolher pessoas compatíveis com meu amor gigante e minha pele que só ele soube definir.
Hoje nós somos consciência, equilíbrio e cada um. Ainda somos o maior respeito e o maior carinho com os seis anos que nos ligam por lindos laços - afrouxados pelo espaço que cedemos um ao outro - nessa jornada louca de vida.
Somos ainda rodas felizes de bicicleta pelo trilho da existência, eu cambaleando e cantando, ele correndo e pulando obstáculos com os olhos e o coração de criança.
Ele ainda é meu branquelo (agora colorido) e eu ainda, a rosa dele (mais cheia de cores).

1 de outubro de 2014

O salvador onírico.

Ainda lembro o dia em que em meio a lágrimas e enjoo, você me pediu pra morar contigo. E da promessa de que cuidaria bem de mim porque.

E ontem, naquela festa estranha, te vi sentado no chão, sem barba e sem me ver, só com muitos cachos na cabeça e muito embrulho no meu estômago. Eu não sei se existia.
As castanheiras do pátio balançavam tão forte com o vento, quanto meu cérebro dentro do crânio.
Eu quis desintegrar e ir pra longe com aquele vento, mas depois disso eu só via você e o terror sentados no chão, sem um sorriso, sem um afeto estampado no rosto e eu não existia.
Apareceu um palhaço, em meio a lágrimas interiores e enjoos exteriores, rodeou, rodeou e parou atrás de mim. Menos enjoo.
Me deu uma mão, me deu a outra mão e com as duas/quatro mãos dadas, me colocou nas costas e me tirou dali. O barulho das folhas das castanheiras começou a se afastar assim como seus olhos sem brilho e seu semblante amorfo. E como meu medo.

Eu e o palhaço paramos de andar, quer dizer, ele (sério, claro e certo), salvador, comigo nas costas, sem dizer uma palavra sobre uma grama verdinha e refrescante como a figura dele, que me faz corar e surpresa. Meu coração voltou a bater no ritmo certo, a respiração serenou e acordei.


Sem medo desse resquício de pesadelos que ainda tenho, sem me sentir desprotegida, sem cachos e enjoo como tem sido, com carinho distante de palhaço, com muita certeza e amor por minha existência e só com a feliz memória real do dia em que, em meio a lágrimas e enjoo, você me pediu pra morar contigo e de tudo o que ganhei depois disso porque.