3 de junho de 2012

O homem abreviado.


Enquanto eu destrincho ideias e ideais pra ver se ele consegue decifrar pelo menos dez porcento de mim, o homem abreviado corta tudo pela metade: gestos, palavras, sons.
Logo comigo que escrevo por extenso todos os números da minha existência? Quando paro e penso um dia inteiro, posso escrever um livro, ele, uma página.
O pior é que não é falta de conteúdo - ele é bem cheio - mas acostumou ao monossilábico pra explicar, ouvir, amar. Eu fico dividida entre meu celular odiado por ele, prestar atenção no gosto do chiclete ou alegrar minhas mãos no cabelo liso dele. Assim, não sei como - assim como ele não sabe não abreviar - eu gostava dele. Meu teste.
Quando ele parava o carro, meu ser já se carregava de pensamentos nossos em formas de palavras que eu escrevia com os pés, saltitante no caminho até minha casa. Talvez ninguém tenha percebido ou dito até hoje o quão econômico ele é. Eu, falo sozinha.
E eu que prefiro detalhes, cantos, camas, sabores, sons (todos completos, quase um filme), perdi o interesse abreviado quando ele me cobrou e se queixou numa extensa lamúria sem abreviação. Vai entender.

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