26 de fevereiro de 2011

a saudade e o pedreiro.

não choro, não ouço músicas tristes, ainda falo de você... até porque todo mundo quer saber onde você está e eu não posso mandar postais pra todos os amigos e parentes dizendo que acabou.
dói, dói, dói... dói como dói nas pessoas mais intensas e apaixonadas, não como dói em você, ou no resto do mundo. não ando lendo Caio Fernando, Vinícius, Neruda, nem um desses amantes amados, ando devorando palavras cruzadas e pintando as paredes que agora parecem sem sentido.
mas é minha vida, meu espaço, meu coração, meu corpo, minha saúde, minha maturidade, minha primeira vez mulher.

aquele tchau rápido e ríspido com seu pai foi uma facada no peito, até deixar a cachorra que vive carinhosa quando eu chego, doeu. você sabe... as carambolas doeram, a grama com cocô de cachorro doeu, os galhos da árvore em que eu tentei me segurar mas não tinha força, doeram, aquele círculo que eu não lembro o nome e estava quente sentada do seu lado, doeu muito.
atravessar minha rua inteira nunca foi tão complicado, tão Via Crúcis... mesmo com a cara molhada e sem vergonha de chorar minha tristeza, a rua toda apareceu: a dona da padaria resolveu jogar os pães fora quando eu passei e me olhou, resolveram limpar uma casa abandonada e me olharam, um pedreiro pensou em me olhar com malícia, mas quando levantei o rosto pra ele, perdeu o rebolado e fixou os olhos pretos dele nos meus, sentiu pena de mim por não saber o porquê daquilo e acabou sendo bonito.

agora é isso, esperar a semana começar pra trabalhar, trabalhar e fazer tudo de novo até que passem essas facadas que pegam o peito desprevenido durante os dias, me esconder nos elevadores e cantos sem câmera se der vontade de chorar e o problema é que o choro já não sai... pesa o peito e a garganta, mas não sai.
não é a primeira vez, nem será a última, mas estou torcendo pra isso tudo passar logo.

Um comentário:

Alexandre Oliveira disse...
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